Relatar una ciudad, un lugar, desde una serie argumental de este calado, se echa de menos en la producción nacional.
Carlos Reyes M.
Publicado en El Llanquihue, 7 de noviembre de 2023.
Ver Nada es asomarse a los avatares de una ciudad como Buenos Aires, mientras transcurre la avanzada madurez de un hombre singular. Manuel Tamayo Prats (Luis Brandoni) es un dandy venido a menos, cuyas variadas experiencias lo derivan hacia la crítica gastronómica -que realiza con excelencia y malicia-, por las cocinas de una capital argentina repleta de luces y sombras, puesta frente al espectador delicadamente sin tapujos. Está vista con la pulcritud de quien ama sus rincones más íntimos, con puntos altos y a la vez ante sus profundas contradicciones.
Esto no es un comentario de series -Nada está en la plataforma Star+- pero vale destacar el trabajo de Mariano Cohn y Gastón Duprat, guionistas y directores, por observar desde el panóptico de los sabores, de una urbe que históricamente ha sabido absorber culturas diversas: desde la seña aristocrática de un Filete Wellington hasta los pasos de la milanesa o el pancho perfecto en ese micromundo porteño. Pero además consiguieron, con pasos artesanos, es decir plagados de pequeños detalles, una mirada internacional sin apelar a las fórmulas de la mayoría de las producciones de su tipo: nada de neutralidad, más bien un compromiso con el territorio. Por mucho que ficharan al mismísimo Robert de Niro por su amistad personal con el protagonista.
Relatar una ciudad, un lugar, desde una serie argumental de este calado, se echa de menos en la producción nacional. Sobre todo si nos adentramos en el campo del comer, tremendamente abonado para cualquier tipo de relato, someramente abordados por la literatura -más bien por la poesía- de tanto en tanto. En la pantalla, en ese sentido, poco, aparte de las vistas desparramadas en decenas de programas de televisión de fin de semana, casi cortados por la misma tijera, proyectando ampliamente sabores y saberes locales pero sin mayores o más complejas reflexiones.
¿Existen los Manuel Tamayo acá? ¿Caminan tras la mejor cocinería costera, o quesos según su leche o su madurez? ¿Distinguen la grasa de las carnes de ganadería regenerativa de Fresia, o el gusto de un chorito del Maullín? Ciertamente, con sus propios códigos. Basta filmarlos, contar su historia, con la debida cortesía.
A compliment to “Nada”
To tell the story of a city, a place, from a series of this depth, is missing in the TV chilean production.
Carlos Reyes M.
Published in El Llanquihue, November 7, 2023
To watch Nada is to peek into the vicissitudes of a city like Buenos Aires, while the advanced maturity of a singular man takes place. Manuel Tamayo Prats (Luis Brandoni) is a down-and-out dandy, whose varied experiences lead him to gastronomic criticism -which he performs with excellence and malice-, through the kitchens of an Argentine capital full of lights and shadows, delicately placed in front of the viewer without concealment. It is seen with the neatness of someone who loves its most intimate corners, with high points and at the same time in front of its deep contradictions.
This is not a TV show commentary -Nada is on the Star+ platform- but it is worth mentioning the work of Mariano Cohn and Gastón Duprat, screenwriters and directors, for observing from the panopticon of flavors, of a city that has historically known how to absorb diverse cultures: from the aristocratic sign of a Wellington steak to the steps of the milanesa or the perfect “pancho” in this micro-world of Buenos Aires. But they also achieved, with artisan steps, that is to say, full of small details, an international look without appealing to the formulas of most of the productions of its kind: no neutrality, but rather a commitment to the territory. Even if Robert de Niro himself was hired for his personal friendship with the protagonist.
To narrate a city, a place, from a plot series of this depth, is missing in the national production. Especially if we go into the field of food, a tremendously fertile ground for any kind of story, which literature -or rather poetry- has only touched upon from time to time. On the screen, in that sense, little, apart from the views scattered in dozens of weekend television programs, almost cut by the same scissors, widely projecting local flavors and knowledge but without greater or more complex reflections.
Do the Manuel Tamayo’s exist here? Do they walk after the best coastal cuisine, or cheeses according to their milk or maturity? Do they distinguish the fat of the regenerative livestock meats from Fresia, or the taste of a mussels from Maullín? Certainly, with their own codes. It is enough to film them, to tell their story, with due courtesy.
Um elogio a “Nada”
A narração de uma cidade, um lugar, a partir de uma série de histórias dessa profundidade, está faltando na produção nacional do Chile.
Carlos Reyes M.
Publicado em El Llanquihue, 7 de novembro de 2023
Assistir a Nada é olhar para as vicissitudes de uma cidade como Buenos Aires, enquanto passa a maturidade avançada de um homem singular. Manuel Tamayo Prats (Luis Brandoni) é um dândi em baixa cujas experiências variadas o levam à crítica gastronômica – que ele executa com excelência e malícia -, através das cozinhas de uma capital argentina cheia de luzes e sombras, delicadamente colocadas diante do espectador sem nenhuma ocultação. Ela é vista com a delicadeza de alguém que ama seus cantos mais íntimos, com pontos altos e, ao mesmo tempo, diante de suas profundas contradições.
Não se trata de um comentário de série -Nada está na plataforma Star+-, mas vale a pena destacar o trabalho de Mariano Cohn e Gastón Duprat, roteiristas e diretores, por observarem desde o panóptico dos sabores, a uma cidade que historicamente soube absorver diversas culturas: desde o sinal aristocrático de um Filet Wellington até os passos da milanesa ou o “pancho” perfeito nesse micromundo portenho. Mas eles também conseguiram, com passos artesanais, ou seja, cheios de pequenos detalhes, um visual internacional sem apelar para as fórmulas da maioria das produções de seu tipo: nada de neutralidade, mas sim um compromisso com o território. Mesmo que o próprio Robert de Niro tenha sido contratado por causa de sua amizade pessoal com o personagem principal.
Contar a história de uma cidade, de um lugar, a partir de uma série com um enredo dessa profundidade, está em falta nas produções nacionais do Chile. Principalmente se entrarmos no campo da alimentação, um terreno tremendamente fértil para qualquer tipo de história, que só é abordado de leve pela literatura – ou melhor, pela poesia – de vez em quando. Na tela, nesse sentido, pouco, além das visões dispersas de dezenas de programas de televisão de fim de semana, quase cortados pela mesma tesoura, projetando amplamente sabores e conhecimentos locais, mas sem reflexões maiores ou mais complexas.
Será que os Manuel Tamayo existem aqui, será que eles andam atrás da melhor cozinha litorânea, ou de queijos de acordo com seu leite ou maturidade, será que eles distinguem a gordura das carnes de gado regenerativo de Fresia, ou o sabor de um mexilhão de Maullín? Certamente, com seus próprios códigos. Basta filmá-los, contar sua história, com a devida cortesia.